segunda-feira, 9 de novembro de 2009

eu-em-meu SER

Eu sinto, eu pinto,
Eu vejo, eu perco,
Eu erro, me alegro,
Imito, e minto...
Sou humana, vivo!

Eu amo, Eu "paixono",
Eu vejo, Eu desejo,
Sinto dor, sinto medo.
Sou ao vento, coração de pano.
Rasgo fácil, enfrento enganos.
Sou poeta, vivo!

Sou desenho, Sou poema,
Sou papel, caneta e pena.
Sou nuvem, Sou reflexo,
Sou miragem, sou anexo,
Sou milênio, sou silêncio.
Vivo, e em fim
Sal - Dade.

(Michi-wara, Leão Preguiçoso de Asas de Cera [LPAC] ou Ariel Almeida)

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Atualidades

Vejo todo dia
Seres que me rodeiam
Será que me amam?
Ou será que me odeiam?

Seres estranhos...
Diferentes de mim,
Diferentes de todos,
Indiferentes á si próprios.

Corações feitos
De minério desconhecido
Derretido?Impossível!
Sólidos incomparáveis.

Fingem sentir.
Dominam o descuidado.
Ensinam a mentir
Quem ainda é puro de alma.

Aproveitam...Se aproveitam!
Com malévola calma.
Dessas mentes inoscentes,
Desses únicos que sobraram.

Tem aparência e cara
De gente decente.
Mas é o dinheiro da gente
Que carregam em seus bolsos.

Não quero mais relatar
Trambique de tipo indolente.
Cria vergonha na cara!
Humanidade insolente!

by Ariel Isaura Souto Almeida.

Você está vivendo assim...

A vida cotidiana de homens e mulheres comuns, é regrada pela sociedade do consumo, há uma transformação do indivíduo numa mercadoria, numa coisa, e assim é tratado como tal. Mudanças culturais e sociais nas últimas duas décadas são suficientes para falarmos em um novo período histórico.

Há uma nova percepção do mundo, nas cabeças da última geração, uma hierarquia de valores que, entre outras coisas, descarta a idéia de um tipo de regulamentação normativa da comunidade humana, sem regras, assume-se que todos se equivalem, como coisas, mais uteis ou menos uteis, mais usáveis ou descartáveis em um dado momento. Todos são igualmente bons ou maus, sem que isso seja realmente relativo ao seu significado, adota-se a subjetividade como marco julgador, enfim, uma ideologia que se recusa a fazer julgamentos baseados em ética, só em pressupostos de utilidade pessoal. Recusa-se a debater seriamente questões relativas a modos de vida viciosos ou virtuosos, pois, no limite, acredita-se que não há nada a ser debatido.

Compreender esse tipo curioso e em muitos sentidos misterioso de sociedade que vem surgindo ao nosso redor faz-nos investigar que movimentos levaram a tais transformações, talvez a revolução do trabalho, no ensino, o debate do pertencimento ou o feminismo... contudo resta a necessidade compulsiva e as vezes obsessiva de auto-afirmação, de afirmação sobre o outro, sobre o social enquanto movimento, sobre os valores tradicionais.

Tudo é temporário. Incapaz de manter-se. As instituições, quadros de referência (vide Foucault), estilos de vida, crenças e convicções mudam antes que tenham tempo de se estabelecer em costumes, hábitos e verdades. Nada como antes, nenhuma mudança busca mais a enrraização, tudo é volátil. Os empregos, o know-how, os relacionamentos. Tudo tende a permanecer em fluxo, desregulados, flexíveis demais (usando o melhor termo para expressar).

O "para sempre" dura 20 anos, dois anos, alguns meses. Quais as consequências dessa situação? A lógica do indivíduo desaparece, não sabemos o que esperar de ninguém na medida que os próprios valores são voláteis ou não existem mais. O que esperar do cotidiano? No trânsito onde mata-se por nada, no trabalho sem o coleguismo, no aproveitar-se de tudo e todos em prol de interesses sempre subjetivos. Não há coletividade, não há parceria, deixou de haver lealdade.

Todos os aspectos da vida são afetados quando se vive a cada momento sem que a perspectiva de longo prazo tenha sentido. Não se faz mais planos por que não há identidade fixa. O ser humano é cada vez mais individualista, e nessa individualização é cada vez mais só. Ele
precisa do outro como o ar que respira, mas ao mesmo tempo, ele tem medo de desenvolver relacionamentos mais profundos, que o imobilizam num mundo em permanente movimento, cheio de possibilidades, mas totalmente fluido, sem solidez.

Antes as ameaças eram óbvias, os perigos eram mais palpáveis e não havia mistério sobre o que fazer para neutralizá-los ou ao menos aliviá-los. Os riscos de hoje são de outra ordem, não se podendo sentir ou tocar muitos deles apesar de estarmos todos expostos, em algum grau a suas consequências. Antes a sociedade era menos ansiosa e tinha uma vida mais segura e estável. Hoje não podemos medir a fortaleza de uma relação pelos seus pontos fortes construídos por todos, mas pelos pontos fracos, que pela subjetividade vai depender só de um.


Baseado em Zygmunt Bauman.



by taxilunar

sexta-feira, 17 de julho de 2009

A tristeza

Uma das questões que mais suscita ansiedade nos seres humanos é: como livrar-se da tristeza? Este sentimento é, talvez, o mais prontamente rejeitado quando surge no interior de alguém.Entretanto, ele é parte indissociável da vida, tanto quanto a alegria. Aceitar esta verdade reduz, em grande parte, o mal estar que experimentamos quando somos tomados pela tristeza.Aceitar não significa querer cultivá-la para sempre, nem considerá-la agradável, mas sim reconhecê-la como uma demonstração importante de sensibilidade, qualidade imprescindível à condição humana.Quanto mais tentamos negar a tristeza ou rejeitar este sentimento, querendo que ele desapareça o mais rápido possível, mais difícil será nos libertamos, pois tudo o que é negado ou reprimido tende a se tornar ainda mais forte e predominante em nós.Devemos aceitar com tranqüilidade que, em algumas circunstâncias, é impossível e antinatural não sentir tristeza. Porém, não podemos perder de vista, nem mesmo nestes momentos, que a felicidade deve sempre ser a meta principal da vida, por pior que seja a situação que estejamos enfrentando.Ter em mente que aquela situação é uma realidade momentânea, e não será definitiva, nem a única condição possível para o resto de nossas vidas, ajuda-nos a ter forças para construir uma nova disposição interior."Aceite a tristeza como parte da vida - não resista a ela, permita-a, ajude-a. E este é o caminho alquímico para transformar de modo total a natureza da tristeza. A natureza da tristeza torna-se clara. Em pouco tempo não é mais tristeza - ela é transformada em alegria. Tristeza permanece tristeza se você luta com ela, se você a nega, se você a rejeita.A tristeza permanece tristeza se você está contra ela - de outra forma, a tristeza é pura energia. Se você a recebe, se você a abraça, se você não tem medo dela, nem raiva dela, você ficará surpreso, imensamente surpreso: você terá mudado totalmente a natureza dela, ela não é mais tristeza. Mesmo as lágrimas começam a se tornar sorrisos, e a tristeza se torna silêncio.Tudo aquilo que nós conhecemos como negativo pode ser transformado em positivo.E o segredo é simples: aceitação, total aceitação. Nada tem de ser condenado, de nenhuma maneira. Tudo que vier tem de ser recebido com grande gratidão, como um presente de Deus. E você estará pronto para transformar flores em espinhos e pedras comuns em diamantes. A vida absolutamente ordinária começa a apresentar o sabor do extraordinário.Então, nada é ordinário, porque tudo começa a se tornar uma excitação. Nada é ordinário - porque você está tão extático a respeito de tudo...Embora você esteja se movendo no mesmo mundo, com as mesmas pessoas, você pode viver em um mundo totalmente diferente - e não ser parte de nada mais.Um tipo de transcendência acontece. Mesmo a morte é tão profundamente aceita quedesaparece todo o medo e mesmo ele se torna uma dança".



Maria Júlia Moura Vieira

Amor único incomparável

Filha, você sabe como teu pai é emotivo...
Antes mesmo de escrever, meu coração já parece não caber no peito, só de pensar em você e no quanto você é importante pra mim, para nós todos.
São milhões de imagens, lembranças, sensações que constroem todo o meu sentimento agora para escrever, e sei que um milhão de páginas não comportaria tudo, se eu fosse escrever tudo.
Desde o segundo que eu soube que você estava na barriga da tua mãe, já me enchi de uma energia que não tinha sentido antes, tudo a partir dali seria programado, direcionado e pensado na minha vida, para você.
Vi você sair da tua mãe e senti já que precisava te proteger, se pudesse teria aberto a minha barriga para colocar você quentinha e guardada de novo, mas não podia e dali pra frente tinha que arranjar um jeito de fazer o mais próximo disso.
Sei que não tenho podido cumprir, e não o tenho por que a vida não é mágica como nas estorinhas que eu te contava para dormir, e não consigo ser ainda o rei no cavalo branco, colocar um exército para te defender do mundo e te dar uma vida de princesa, mas posso garantir que não é só de um rei, mas de todos os reis, que eu tenho o amor reunido no coração pra você. Sou teu pai. Se fosse preciso eu tiraria um dedo, um braço, todo o meu sangue ou meu coração se você precisasse para o teu corpo. A minha vida está à disposição da tua!
Não pode chover para sempre, e mais cedo ou mais tarde o sol brilha alto e quente. Mesmo que alguns momentos difíceis te apareçam e eu não esteja perto, fique firme, por que é só o tempo de eu saber que você precisa somado ao tempo de eu percorrer a distância até você, para te dar o colo e o braço forte de teu pai e fazer escudo para tudo.
Você foi crescendo e eu me apaixonando ainda mais por você. Não, eu não quis um menino, eu não quis você diferente, aliás, você é a filha que eu queria ter. Sempre digo isso quando falo de você pra alguém. “Ariel é a filha que eu queria ter... ela parece demais comigo, sou eu novamente, só que menina!”. Pois é, consigo ver a mim em você, é o que todo pai quer.
É bom que eu esteja escrevendo no teclado por que se fosse sobre o papel, ele estaria encharcado dessas águas que teimam em vazar do olho quando agente pensa em quem ama e que está longe.
Em alguns momentos difíceis da minha vida, você foi o motivo para eu levantar, juntar os pedaços e mesmo “funcionando” com defeito, continuar. Pois é, alguns saem da “fábrica” com defeito, outros se quebram no caminho. Você sem mexer em nenhuma ferramenta consegue consertar essa máquina quando quebra.
Tem uma coisa que eu gostaria que você soubesse: um pai nunca fica bravo com um filho, ele fica bravo com o mundo que modifica o anjo que o filho é, quando ele grita por estar bravo, é mais como se pedisse socorro a si mesmo para resolver o problema que o filho passa, do que para repreendê-lo por seus erros.
Você sempre vai ouvir os comentários de teu pai... Que já começa a ser “o velho pai”, mas só quando você for uma mãe, vai pensar: “É... o velho pai não estava tão errado!”. Todo filho, enquanto é filho, pensa que os conselhos dos pais são exagerados, e que “os velhos estão viajando...”.
Olha filha, como já comentei, se te disser para apostar num cavalo, aposte, porque é barbada! Os pais nunca diriam ao filho para tomar o caminho errado!
Acho que não devo escrever mais do que uma página, para não te cansar ou se você tiver que ler pra alguém, não fazê-la passar por um grande mico, pelo sentimentalismo de teu pai.
Quero que saiba que sou encantado por você e me reencanto a cada dia que você me conta de alguma descoberta, que me conta de alguma preferência ou de alguma poesia com jeito de gente grande, que você escreveu. Não inventaram palavras para eu dizer tudo que sinto por você, até agora as que melhor podem exprimir são: Eu amo você.

Soneto de aniversário

Passem-se as horas, dias, meses, anos
Amadureçam as ilusões da vida
Prossiga ela sempre dividida
Entre compensações e desenganos

Faça-se a carne mais envilecida
Diminuam os bens, cresçam os danos
Vença o ideal de andar caminhos planos
Melhor que levar tudo de vencida.

Queira-se antes ventura que aventura
À medida que a têmpora embranquece
E fica tenra a fibra que era dura.

E eu te direi: amiga minha, esquece...
Que grande é este amor meu de criatura
Que vê envelhecer e não envelhece

(Vinicius de Moraes)

O tempo...

Essa coisa que existe desde sempre... por sinal, "sempre" também pode ser considerada uma medida de tempo. Medimos o tempo, cortamos a vida em segundos, minutos e horas, estas se juntam e se transformam em dias, semanas, meses e anos... Passamos o tempo, confiamos que o tempo vai transformar qualquer coisa, afinal, o tempo muda tudo. Este bendito tempo nos dá rugas, experiências que nos farão crescer e desenvolver alguma arte da vida. Dá entendimento sobre um assunto, dá calma ou intranquilidade. Ele nos tira o fôlego. Damos tempo ao tempo, nós perdemos tempo, nós queremos tempo para construir os nossos sonhos. O mundo corre contra o tempo. O tempo nos obriga a amadurecer, para termos filhos e vê-los crescendo, com o passar do tempo. E ainda mais, o tempo não é só por onde caminhamos, é o verbo que define ações feitas e a fazer, o tempo define o próprio presente, passado e futuro. É passível de compreensão dos nossos desejos "eu faria" "se eu fizesse". O tempo é calor e frio, é mudança climática.

No dicionário o tempo está definido como: Medida de duração dos seres sujeitos à mudança da sua substância ou a mudanças acidentais e sucessivas da sua natureza, apreciáveis pelos sentidos orgânicos.

Eu acredito nos dicionários, eu realmente creio nas pessoas que pesquisaram e aglutinaram conhecimento de milhares para chegar a definição das palavras do mundo. O dicionário só constata o senso comum do povo, que é quem, de fato, usa das palavras. Ninguém mais que ele pode definir palavras.

Sendo assim... alguém realmente entende o significado do termo "Tempo" do dicionário?

O tempo muda nossas substâncias, promove as ocasiões de ruptura de conceitos, muda inclusive a natureza. E tudo isso pode ser percebido pelos nossos sentidos, aqueles mesmos que aprendemos na escola. Como algo tão poderoso, dissonante e adimensional pode ser tão fluido e assimétrico?

Eu só posso concluir que preciso mais de tempo para essa discussão...


consiência elástica